"Match Report" - I Torneio Internacional Feminino de Sevens (2ª Jornada do CN)

No passado sábado o vosso autor deslocou-se até à Moita, mais precisamente ao Campo do Gaio, casa do Rugby Vila da Moita, 'herdeiro' da tradição de rugby na região do Barreiro, um tradição que talvez surpreenda um adepto mais recente da modalidade mas que não está esquecida para quem, na década de 80, assistiu a encontros da selecção nacional sénior, a contar para o 'velhinho' Torneio FIRA (agora Torneio Europeu das Nações), contra a Roménia e contra a Rússia (vejam os programas de jogo dos respectivos jogos no 6 Nações B deste ano para conferirem).
Este clube, longe de ter um plantel sénior que rivalize com o de um CDUL ou Belenenses, por exemplo, tem feito um esforço enorme para, numa terra em que o futebol é rei e senhor, criar condições e instalações de superior nível para a prática do nosso desporto de eleição. Sem apoios estatais de maior monta, grandes patrocínios ou 'notáveis' que viabilizem a realização de obras de fundo, o RVM construiu um bom campo relvado, e vai construir um campo sintético, novos balneários e bancadas, dando a umas instalações já de si bonitas e numa região com muito espaço para trabalhar, um bom uso e um futuro risonho.

Creio ser importante explicar previamente que, para este autor, em cada reportagem mais detalhada, quer seja a um evento ou a uma simples partida, o mais importante nunca foram as grandes condições do local ou um tratamento especial por parte da organização, algo que dispenso e não me ajuda.

Numa reportagem, independentemente da dimensão e importância desta, o mais importante é poder falar com todos os envolvidos, visitantes e visitados, árbitros, fãs ou dirigentes, apercebermo-nos dos triunfos e dificuldades de quem vamos reportar e receber a amizade e simpatia de todos. Em suma, ser bem recebido. As vezes basta uma ajuda para se chegar ao local, outras vezes tem a ver com a preocupação que as pessoas têm em que tudo nos corra bem, nalguns casos mais especiais, acaba por ser a insistência com que as pessoas querem que partilhemos da sua festa, da sua realidade no rugby e tenhamos um bom dia ou tarde.


ANTEVISÃO DA PROVA
Para este evento, a segunda jornada do Campeonato Nacional Feminino de Sevens 2008/2009, era fulcral avaliar em que estado está o rugby feminino e em que forma estão as equipas da 1a e 2a divisão, que aqui competiram de igual para igual durante um dia inteiro. A resposta, dada pelas 10 equipas portuguesas (apenas não compareceram, de todos os conjuntos de rugby feminino português, o Setúbal, o Caldas, a Lousã e o CRAV) e pela equipa do Sevilha, que o Sr. Paulo Lopes, elemento sempre simpático e disponível do conjunto andaluz, trouxe até à margem sul para esta importante competição, foi determinada e visível. O rugby feminino está forte e em desenvolvimento e merece ver a sua estrutura competitiva e selecção remodeladas urgentemente pela Federação.
Depois de uma primeira jornada que a Agrária organizou e venceu (ver resumo da prova aqui), em que CDUP e Benfica foram as equipas que mais se aproximaram das 'charruas' e onde a estreante equipa do ISMAI surpreendeu tudo e todos ao conquistar o 7o lugar, o excelente modelo competitivo que foi criado para esta competição permitiu novamente assistir a duas fases de grupos de crescente competitividade, que procediam a uma separação das equipas consoante os resultados obtidos, emparelhando, na 2a fase de grupos, ou fase final, clubes de semelhante capacidade. Excepção a esta regra foi a equipa andaluz, que por não participar no campeonato nacional, independentemente dos seus resultados, participou, na fase final, no grupo que classificava as equipas entre o 7º e o 11º lugar.


PRIMEIRA FASE DE GRUPOS (FASE INICIAL)
Abordando a competição propriamente dita, a primeira fase separou as equipas mais fortes como o Benfica, a Agrária, o CDUP e o Técnico das demais e revelou algumas surpresas, como a Agronomia, que apesar da derrota inicial com as 'encarnadas' esteve bastante consistente e foi o conjunto que mais luta deu às quatro favoritas (destaque especial para Alexandra Silva, uma jovem que deu nas vistas no 2o jogo das 'agrónomas'); o ISMAI, que perdeu com a Agrária mas apresentou um conjunto muito interessante de jogadoras promissoras que surpreenderam com a vitória (12-05) sobre as algarvias do Loulé; e esta última equipa, que apesar das duas derrotas na 1a fase, lutou contra a Agrária de forma destemida e teve duas jogadoras em destaque, Vanessa Martins e Tatiana Gregório.
Uma nota especial para a equipa do Cascais, provavelmente das mais novas a alinhar, que esteve muito bem e limitou a força do Sevilha, um conjunto que descontando o jogo com o Benfica, poderia ter tido uma melhor classificação no fim do evento caso pudesse aceder ao grupo que classificava as equipas entre o 4º e o 6º lugar. Tanto Benfica como Agrária mostravam-se imparáveis rumo à fase final, sendo que nesta fase inicial é justo afirmar que se o Benfica teve a melhor partida (a vitória 36-00 no jogo contra as sevilhanas não estava 'nas contas' de muitos espectadores), as conimbricenses estiveram mais consistentes e não deram hipóteses a ISMAI e Loulé, com Maria João Campos e Elsa Varela a destacarem-se num conjunto muito eficaz.
Com os lugares para a segunda fase quase todos definidos, a atenção dos presentes no Campo do Gaio centrou-se nas partidas restantes. A equipa da casa venceu num jogo renhido o Santarém, num duelo interessante entre duas jovens promessas (Daniela Caetano, da Moita e Sandra Fidalgo, das escalabitanas), que terminou com a vitória do 7 da casa; o Benfica, com o contributo importante de Margarida Silva, derrotou a determinada equipa da Agronomia; e o CDUP, no encontro que determinava a passagem do vencedor ao Grupo Cup (1º-3º) da fase final, conseguiu aproveitar melhor as suas oportunidades, com Maria João Mamede e Leonor Cameira em destaque num jovem conjunto que defendeu-se com sucesso do forte ataque do Técnico, liderado por Marta Ferreira, uma boa jogadora e elemento importante no VII das 'mabecas', assegurando na 2a parte a vitória (19-12) e o segundo lugar no Grupo C da fase inicial.


SEGUNDA FASE DE GRUPOS (FASE FINAL)
A fase final do torneio foi, apesar dos resultados, bastante equilibrada, com o Sevilha e o Loulé a dominarem no Grupo Bowl (7º-11º), onde o Cascais deu muita luta às jogadoras espanholas e algarvias mas não evitou a derrota nos dois jogos, e o Santarém e a Moita, conjuntos que sofreram muito desgaste, a tentarem minorar os danos causados pelas derrotas e mostrar garra e qualidade de jogo em todas as partidas, objectivo que podemos considerar atingido.
No Grupo Plate (4º-6º), o domínio coube ao Técnico e à Agronomia, que realizaram um jogo muito bom entre si (a equipa das Olaias venceu por 10-12, renovando o 4º lugar alcançado na Agrária e teve na jogadora Joana Vieira uma séria candidata a melhor jogadora do torneio, tal a influência desta no jogo da equipa e qualidade individual), isto apesar do ISMAI, por motivos de deslocação, ter ficado impedido de realizar a sua última partida, contra as jogadoras da Tapada.
Por fim, Benfica, Agrária e CDUP decidiriam entre si a vitória no Grupo Cup (1º-3º) e, caso esta coubesse às campeãs nacionais de XV ou às jogadoras treinadas por Pedro Midões, a liderança provisória na tabela classificativa do campeonato. Desta luta foi rapidamente afastada a equipa do Porto, que lutou imenso e deu tudo quanto tinha mas teve um jogo que não lhe correu tão bem contra uma Agrária intratável, que qual rolo compressor não perdoava nenhuma das equipas adversárias, e já não tinha capacidade física e anímica para aguentar com o Benfica, que esteve sempre muito constante e discreto durante toda a prova, invicto no seu caminho até ao jogo final com a Agrária.
A partida final, entre as campeãs nacionais de XV e a equipa que, nos últimos anos, mais luta lhe tem dado, a Agrária de Coimbra, foi decidida nos detalhes e teve, apesar da impossibilidade deste autor em cobrir a mesma por via de fotos ou vídeo, momentos de grande qualidade técnica. Começaram melhor as conimbricenses, que foram para o intervalo a vencer por 07-05, num ensaio de Elsa Varela convertido por Maria João Campos. O Benfica, que não queria voltar a perder esta partida (na Agrária foi derrotado 12-00 e ficou no 2º lugar) atacou mais na segunda parte e mesmo depois de sofrer o segundo ensaio, marcado pela 'charrua' Raquel Freitas, foi à procura do empate e de novo ensaio, que conseguiu já no cair do pano. Sem muito mais tempo para jogar, a conversão de Maria Vasquez, uma jogadora que esteve muito bem durante toda a competição, podia ter levado as equipas para um prolongamento.
Infelizmente para a valente atleta benfiquista tal não aconteceu, e as jogadoras de Pedro Midões celebraram uma importante vitória (12-10) que os deixa a 2 pontos do primeiro título da época 2008/2009. Aquilo que separou Benfica e Agrária foi sobretudo a maior eficácia das vencedoras e algumas desatenções defensivas do conjunto benfiquista que não conseguiu evitar uma merecida vitória das jogadoras de Pedro Midões, que encerrou um dia de muito trabalho para o Sr. Paulo Duarte e para a Sra. Filipa Jales, os dois árbitros que estiveram encarregues da arbitragem destas 22 partidas e que, findo as mesmas, podem estar orgulhosos por terem feito um trabalho com poucos erros e sem dúvida muito positivo.


FICHA DO CAMPEONATO NACIONAL DE SEVENS 08/09

- 1ª Jornada: Torneio da Agrária (ver resultados aqui)

- 2ª Jornada: Torneio da Moita (ver resultados aqui)

- 3ª Jornada: Torneio do Técnico
(fim-de-semana de 30/31 de Maio)


- Classificação Geral (depois da 2º jornada): aqui


PRÉMIOS E DISTINÇÕES DESTE TORNEIO

É sempre uma tarefa difícil (e por vezes injusta) premiar ou distinguir de dentro de um grupo de elementos, neste caso jogadoras, que deram o seu melhor ao longo de um dia inteiro e que mostraram muita qualidade, qual a melhor ("melhor jogadora") mas neste caso essa distinção foi atribuída à jogadora Isa Ribeiro, da Agrária.
Aqui no Rugby Portugal, apesar de termos referido muitas jogadoras durante esta curta crónica dos eventos, e de sem querer podermos ter omitido muitas outras jogadoras, seleccionamos 14 para uma convocatória ideal, tendo em conta o que se passou durante os jogos do passado sábado. Assim sendo, fica aqui a nossa selecção do torneio, organizada por nome alfabético das equipas em questão.

Maria Heitor (Agronomia)
Elsa Varela (Agrária)
Isa Ribeiro (Agrária)
Raquel Freitas (Agrária)
Alexandra Gonçalves (Benfica)
Catarina Antunes (Benfica)
Maria Vasquez (Benfica)
Ana Cornélio (Cascais)
Leonor Cameira (CDUP)
Maria de Céu Coelho (ISMAI)
Tatiana Gregório (Loulé)
Daniela Caetano (Moita)
Sandra Fidalgo (Santarém)
Joana Vieira (Técnico)

É importante também destacar, com o apropriado "prémio INEM", a equipa que, durante a prova, mais sofreu com lesões e mais trabalho deu ao fisioterapeuta presente no Campo do Gaio. Sem desprezar o esforço de muitas equipas, que viram muitas jogadoras lesionarem-se e ficarem, de forma temporária ou definitiva, arredadas da competição, consideramos que foi a equipa do Santarém, que tinha ao mesmo tempo a jogadora mais velha e algumas das jogadoras mais novas das 11 equipas em campo e que ficou arredada pelo menos de três jogadoras titulares, duas delas por lesão que obrigou a larga paragem de tempo de um jogo, a vencedora desta distinção.
No campo do "fair-play", uma característica que encontramos igualmente distribuída por todas as equipas presentes, a organização premiou o conjunto do Cascais, e o Rugby Portugal considerou relevante honrar a equipa do Sevilha com a distinção de "comitiva mais animada", tal foi a festa e animação com que estas jogadoras abordaram todo o evento, isto apesar de estarem previamente obrigadas a competir no Grupo Bowl e de terem ficado no 7º lugar, dando clara indicação de que podiam perfeitamente ter competido de igual para igual com as equipas do Grupo Plate.
Para terminar importa destacar a jogadora Joana Vieira do Técnico, que não só esteve muito bem durante todo o torneio, sendo a figura mais proeminente das 'mabecas' como foi unanimemente considerada como a "melhor chutadora" presente e informar que, devido a uma falha na câmara, as declarações de Pedro Murinello, Pedro Midões e Raquel Freitas, recolhidas depois da final, ficaram danificadas, ficando todavia aqui expresso o meu obrigado a todos os intervenientes pelas declarações e um sincero pedido de desculpas pelo sucedido.


NOTAS FINAIS

Em termos técnicos é muito importante que se compreenda que as principais diferenças entre as equipas mais fortes e as mais fracas estão sobretudo no plano físico, na juventude das jogadoras, na capacidade para não cometer erros no manuseamento da bola e no posicionamento em situações estáticas como os recomeços, as formações ordenadas, os alinhamentos e alguns rucks.
Em termos pessoais, devo agradecer muito a um trio composto pela Sra. Xalete, pelo Sr. José Chorão e pelo insuperável Sr. João Santos, que foi apenas a face visível de uma organização fantástica que tudo fez para que os jogadores, árbitros, equipas técnicas, adeptos e este vosso autor tivessem uma boa tarde e para que a competição corresse sem problemas... algo que de facto sucedeu.


ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS
- 2ª Jornada: Torneio da Moita (ver fotos aqui)