Rescaldo do fim-de-semana (1 e 2 de Novembro)

Foi um fim-de-semana com menos actividade interna, sobretudo por causa do jogo internacional entre a nossa selecção e o Canadá. Assim sendo, falarei primeiro dos jogos internacionais desta semana. Sendo verdade que o Portugal - Canadá dominou as nossas atenções no passado sábado e domingo, não devemos esquecer que este não foi o único jogo (entre selecções) que se realizou no fim-de-semana.

A 2ª Divisão da Taça Europeia das Nações (que é composta por 2 grupos, o Grupo A e o Grupo B, com o último classificado da primeira divisão, o chamado "6 Nações B" - onde Portugal se encontra - a ser despromovido à 2ªDivisão A, por troca com o vencedor desse grupo), já vai na sua segunda ronda de jogos e teve pelo menos um encontro que importa mencionar, que foi o Bélgica - Ucrânia, que a Bélgica venceu por 09-08 (vejam aqui a 1ªp e 2ªp do jogo) mostrando que os bons desempenhos das selecções jovens belgas também se estendem à sua principal selecção, que acaba assim de derrotar a recém-despromovida Ucrânia.

Noutras paragens, com a Bledisloe Cup deste ano já decidida a favor da Nova Zelândia, foi uma equipa sem nada a perder que se deslocou até Hong Kong, para disputar uma partida histórica frente à Austrália, um game 4 que embora não decidisse nada, foi bastante disputado. Os Wallabies estavam ao intervalo a vencer por 14-09 graças a dois ensaios muito bonitos do ponta Drew Mitchell, mas uma segunda parte muito eficaz e de algum domínio por parte dos avançados All Blacks deu-lhes (primeiro) o empate e, eventualmente, a vitória por 14-19, com o ensaio (não convertido) de Richie McCaw a fechar as contas do jogo.

Terminamos esta parte internacional do rescaldo com uma breve referência para a vitória da Espanha contra a equipa da Universidade de Cambridge, num amigável que por certo serviu para o seleccionador nacional espanhol Ged Glynn fazer algumas experiências e preparar a sua equipa para o embate do próximo fim-de-semana contra a Rússia a contar para o 6 Nações B (ver aqui convocados da Espanha para essa partida). Num jogo que os ingleses dominaram até ao intervalo (07-15) foi uma boa segunda parte do XV da Espanha (dois ensaios convertidos e uma penalidade) que lhe deu a vitória por 27-20 contra o conjunto universitário. Um bom teste para os espanhóis em Sevilha, que foi arbitrado por um nosso conhecido, o português João Mourinha.


A 4ª jornada da 1ª Divisão (ver calendário e classificação) teve de tudo um pouco: adiamentos (o jogo entre o Évora e o CRAV foi adiado), jogos com resultados mais desnivelados (as vitórias da Agrária em Vilamoura e do Vitória de Setúbal na UTAD) e um encontro muito renhido, em Santa Rita, que terminou com uma vitória da Académica frente a uma equipa do Lousã que conseguiu, não obstante a derrota, sair do jogo com o ponto bónus.
No fim de mais uma série de jogos, apesar de um deles ter sido adiado torna-se cada vez mais claro o facto de existirem, neste momento, dois conjuntos de equipas no campeonato. Um, formado pela UTAD e por Vilamoura, duas equipas que têm que conseguir rapidamente amealhar pontos porque caso não o consigam arriscam-se terem que lutar apenas pela fuga à despromoção; o outro, constituído pelas demais equipas (com especial nota para o caso do Évora que está em quarto lugar mas que tem apenas dois encontros realizados) que lutam por uma vaga na fase final e pela subida à principal divisão nacional, a Divisão de Honra.

NOTA: Embora compreenda porque é que a Divisão de Honra pára nos fins-de-semana em que a Selecção Nacional joga, algo que faz todo o sentido, eu não acho sensato que não se possam realizar jogos de rugby, em outras horas e até mesmo na mesma cidade, quanto mais no país inteiro, no dia em causa. Quem quer ir ver os Lobos vai ver os Lobos, seja no Universitário de Lisboa ou no Estádio Sérgio Conceição em Taveiro. Isso não pode impedir a realização de jogos, sobretudo dos escalões jovens e das restantes divisões seniores no país todo. Se calhar realizam-se menos que o costume, mas não podemos parar campeonatos ou mandar tudo para o Domingo (originando situações como a que abordo mais abaixo, neste texto, noutro aparte) só porque os Lobos jogam (quando ainda por cima o jogo passa na TV).

A quarta jornada da 2ª Divisão (ver calendário e classificação) teve uma ronda que merece ser analisada, como de costume, grupo a grupo. Começando desta vez pelo grupo SUL, aproveitando a folga do Montemor, seria de esperar que reinasse a competitividade nos jogos desta jornada. Todavia, como só se jogou uma partida, porque o Vilamoura B - Elvas/Juromenha foi adiado, fica aqui o registo da derrota do Beja, a celebrar o seu primeiro aniversário como clube, contra uma equipa de Loulé que mais experiente e eficaz no ataque, fez cinco ensaios (três convertidos) e tratou de garantir uma vitória importante para se manter na corrida para a fase seguinte do campeonato. O conjunto bejense, estreante nestas andanças, tem apresentado melhorias no seu jogo e procura converter períodos de equilíbrio nos seus jogos em pontos, algo que ainda não aconteceu (apenas 3 pontos contra Montemor) mas que com o tempo, poderá e deverá surgir.
No grupo LISBOA, dois candidatos começam a definir-se, com uma reforçada FCT e com o forte Cascais Rugby Linha a garantirem, para já, as duas primeiras posições no grupo sem que por causa disso se descarte a possibilidade da Moita e do Belas se intrometerem nas contas deste. Nesta ronda o Cascais Rugby Linha venceu de forma expressiva uma aguerrida equipa do Belas que não conseguiu dar sequência à vitória da semana anterior. A equipa da Moita, por outro lado, deu boa resposta ao desaire sofrido, e mesmo não evitando a vitória da equipa da FCT, fez um bom jogo, tentando impor o seu jogo de avançados a uma equipa universitária que apostou sobretudo no jogo de 3/4os e que explorou muito bem os erros defensivos do XV da casa. A jogar perante um bom público (várias centenas) e numa partida bem arbitrada pelo internacional António Moita, faltou à equipa da casa dar seguimento ao ensaio marcado aos 10 minutos da segunda parte, ao qual os universitários responderam dilatando a sua vantagem com uma série de ensaios que foram fatais para as aspirações dos visitados.
No grupo CENTRO, folgando nesta jornada o até aqui líder Lousã B, disputaram-se dois jogos, um derby já antigo entre escalabitanos e nabantinos e uma estreia no campeonato deste ano, do RC Coimbra, contra uma equipa do Caldas, que caso vencesse podia passar para a frente da classificação. O Caldas, que foi a Coimbra conquistar a liderança do grupo, mais do que a vitória no encontro certamente retirou da exibição a motivação necessária para abordar o jogo da próxima jornada em casa contra a equipa B da Lousã, que promete ser bastante disputado. No derby regional, o Santarém impôs todo o seu poderio e derrotou uma equipa de Tomar que, não obstante ter perdido, ainda tentou, sem sucesso, marcar pontos que atenuassem a (grande) diferença no resultado final.

(2ª) NOTA: Será que é possível, sem atirarmos todas as culpas para dentro do "saco" federativo, assumirmos que não pode ser aceitável um jogo de séniores em Portugal não ter pelo menos um árbitro oficial? Eu penso que sim. Mas dirão alguns que são só três divisões, 36 clubes, portanto 16 jogos por fim-de-semana, em suma, poucas partidas. No entanto, não nos podemos esquecer dos outros escalões, que vão dos Sub-16 aos Sub-20, contando ainda com o Rugby Feminino (que têm tanto direito e a mesma ou mais necessidade em ter árbitros oficiais nas suas partidas), e assim rapidamente esses 16 jogos sobem para 40 ou quase 50. É muito difícil, para não dizer quase impossível, distribuirmos os 26 árbitros inscritos para 2008/2009 (que não estão sempre disponíveis e que em alguns casos não podem apitar nos fins-de-semana ou são também treinadores) por 50 jogos a disputar em dois, por vezes um dia.

Paradoxalmente, uma questão que devia unir os Clubes, as Associações Regionais e a Federação em torno de um problema comum: formar e preparar as pessoas dentro e fora dos clubes e para poderem suprir e minorar aquilo que é a realidade existente (que é a de um rugby em franco crescimento em número de praticantes, um crescimento que o rugby nacional não consegue acompanhar em termos financeiros, logísticos, organizacionais e, como é óbvio, em termos de arbitragem), afasta-os. Creio que, nos campos acima mencionados, se têm feito bons esforços no sentido de acompanhar o desenvolvimento que os resultados dos Lobos "obrigam" este país a aceitar (no campo da arbitragem a Escola de Jovens Árbitros da Associação de Rugby do Sul é um bom exemplo disso) mas não se pode ficar apenas por aí.

É preciso que as partes interessadas se sentem e discutam o assunto, ultrapassando diferenças e encontrando uma solução para quando os árbitros nomeados pelo Conselho de Arbitragem da Federação falham ou não podem estar presentes. É preciso encontrar apoios e uma maior protecção para os "Homens do Apito", uma classe fulcral e importantíssima desta modalidade que já vimos demasiadas vezes ser maltratada e, sinceramente, a quem não damos o devido respeito e apreço. Se queremos ter um futuro como modalidade temos todos que contribuir para o crescimento desta parte do rugby, afastar alguns estigmas que, por sermos uma nação maioritariamente futebolista, temos em relação a esta, e fazer aquilo que é possível para que todos os intervenientes do rugby sejam considerados e aquilo que se passou nos jogos dos séniores até agora (com alguns jogos a realizarem-se sem um árbitro oficial) não se torne a repetir.

Para terminar a análise a mais uma jornada desta divisão, abordamos o grupo NORTE/CENTRO onde esta ronda de jogos deixou as equipas do Famalicão (com mais um jogo) e da Escola Rugby do Porto (que folgou) na frente da classificação. Numa ronda que opunha, num dos dois jogos a Bairrada ao Famalicão, a equipa visitante (Bairrada) teve uma boa primeira parte (conseguiu impor o seu jogo mais forte e limitar as movimentações da equipa adversária) que lhe dava a liderança ao intervalo (07-12). Na segunda parte da partida o XV da casa reorganizou-se nos avançados, área onde tinha sofrido muito na primeira parte e, imprimindo mais velocidade ao jogo, marcou 29 pontos sem resposta, conquistando a vitória no fim da partida e a liderança na classificação geral do grupo. No outro jogo da jornada, a equipa B do CRAV venceu o Lousada por números esclarecedores, que estes quererão por certo esquecer e rectificar já no próximo encontro, quando receberem a Escola Rugby do Porto.

Passando à primeira jornada do Campeonato Nacional de Sub20 (ver calendário e classificação), tivemos quatro jogos com histórias diferentes mas dos quais temos a partida que separar dois, que ocorreram na Tapada e em Coimbra, onde o Direito e o Técnico venceram sem margem para discussão duas equipas sempre muito combativas como são Agronomia e Académica, respectivamente.
Foram jogos menos conseguidos por parte da Académica, que está ainda numa fase de construção e que enfrentou uma equipa do Técnico mais experiente e que explorou todos os espaços que a defesa estudante concedeu (marcando 10 ensaios, 7 dos quais pelos 3/4os, com especial destaque para o 2º centro, nº13, cujo nome me escapa, que marcou 3); e da Agronomia, que enfrentou uma forte equipa do Direito, vitorioso perante alguma apatia mostrada por um conjunto tradicionalmente muito aguerrido, mas aqui humilde na derrota perante um adversário que, naquela tarde, lhe foi muito superior.
Numa das duas restantes partidas da jornada os jovens do Belenenses dirigiram-se à Guia, Cascais, para defrontarem a equipa local. Foi uma partida muito bem disputada, com os azuis a marcarem quatro ensaios e a manterem-se sempre na frente do marcador, apesar da oposição determinada de uma equipa do Cascais que a defender deu tudo quanto tinha, salvando dois ensaios e conseguindo na segunda parte, quando a diferença ameaçava tornar-se impossível de alcançar, marcar dois ensaios, obrigando os visitantes não abrandarem até final da partida e dando justiça a um resultado que, caso não fossem estes 10 pontos, talvez fosse demasiado injusto para os da casa.
Por fim, no último encontro da jornada, uma partida entre "universitários", o CDUL recebeu no EUL uma equipa do CDUP que foi incapaz de conter. Os homens do Porto vieram a Lisboa e levaram a vitória para casa (ficando por saber se marcaram 4 ensaios ou não) por números em tudo semelhantes aqueles com que o Belém levou de vencida a equipa do Cascais.


Sem querer esquecer o único dos jogos em atraso que se realizou neste fim-de-semana, um Cascais-CDUP a contar para a 1ª Divisão do Campeonato Nacional de Sub18, uma partida renhida onde apenas o ensaio (não convertido) do conjunto do Porto separou os dois XVs, vou abordar, para terminar este rescaldo, o jogo entre a selecção nacional e a sua congénere canadiana.

Importava saber, antes do jogo começar, qual seria a postura do seleccionador canadiano para este jogo, que antecede partidas com adversários muito mais poderosos como são a Irlanda, o País de Gales e a Escócia. Com uma comitiva muito forte, reforçada pela entrada de Morgan Williams por força da lesão daquele que seria o médio de formação titular, os canadianos tinham apenas dois estreantes numa equipa que entre si tinha quase 200 internacionalizações e na qual quase todos os jogadores já tinham jogado em pelo menos uma edição do Campeonato do Mundo. Não restavam dúvidas, Kieran Crowley tinha vindo a Lisboa para ganhar e deixava poucas das suas peças (leia-se jogadores) mais experientes no banco.
Feliz com tal facto, constatei que Portugal apresentava quatro caras novas (João Júnior, Diogo Fialho, David dos Reis e Pedro Silva) que nunca tinham vestido a camisola da selecção sénior. Era portanto, uma aposta arriscada, aquela que o seleccionador nacional fazia, ao entregar tamanha responsabilidade a estes jogadores, especialmente aos avançados, que enfrentavam um pack muito experiente e forte. Uma daquelas apostas que nos pode correr bem... ou muito muito mal.
Felizmente para Portugal, à medida que o jogo decorria verificou-se que as apostas estavam a dar dividendos, e que o filme dos anteriores jogos entre estas duas selecções não se estava a repetir, visto que os Lobos, apesar de estarem a perder, nunca davam provas de cansaço ou de desatenção (sobretudo a defender), tendo mostrado a uma equipa canadiana muito forte que não lhe eram inferiores, bem pelo contrário, dando claramente a ideia de que aquilo que faltava ao XV nacional eram pontos, eram ensaios. Numa das poucas hipóteses que a defesa canadiana nos concedeu, e numa jogada que, com toda a imparcialidade, se pode considerar a jogada do encontro, o defesa nacional Pedro Silva marcou um ensaio muito bonito, convertido pelo Pedro Leal, que não só trouxe mais equilíbrio a algum desnível no marcador causado pela entrada (mais forte, sobretudo nos avançados) do Canadá, como deixou para a segunda parte aquilo que todos esperavam ver: o resto de uma reviravolta.
A segunda parte da partida evidenciou o melhor e o pior de Portugal. Perante uma equipa teoricamente mais forte, com mais soluções e melhor classificada no ranking da IRB, os Lobos não se amedrontaram e foram ao banco buscar soluções que não eram de recurso ou mais fracas (ou menos experientes) mas sim alternativas válidas que conseguiram equilibrar a partida nalguns aspectos onde tínhamos sofrido mais no primeiro tempo. Foi o caso da entrada de Juan Murré, bem como a de Duarte Cardoso Pinto. E assim Portugal entrou a marcar no segundo tempo, atacando com mais vivacidade mas ao mesmo tempo fazendo mais faltas (especialmente no chão, onde fomos muito penalizados) e revelando um jogo de três quartos menos fluido que o costume.
A esta nova atitude portuguesa respondeu o Canadá com um nome: James Pritchard, na minha opinião o melhor jogador em campo neste test match. Aproveitando uma jogada que prometia dar-nos o ensaio tão necessário mas que um mau passe estragou, o nº15 do Canadá marcou um ensaio de intercepção, convertendo-o de seguida e dilatando ainda mais a vantagem canadiana, que antes desse momento era apenas de três pontos. A perderem por 11 pontos, os portugueses deram o tudo por tudo e bem que tentaram chegar ao ensaio, todavia, mais por força dos nossos erros do que do mérito de quem defendia, não o alcançamos, tendo apenas reduzido para 8 pontos a diferença que nos separava, graças a mais uma penalidade convertida pelo nosso nº9, Pedro Leal (Pipoca).
Foi um jogo que valeu pelas boas estreias (achei particularmente boa a de João Júnior, que não tremeu perante Kevin Tkachuk, um veterano destas andanças e o pilar do Canadá), e por uma exibição que, no computo geral, não foi nada má. Faltou-nos um pouco de disciplina (fizemos demasiadas faltas) e acerto no jogo de três quartos (que a defender estiveram muito bem mas a atacar foram mais infelizes). Sem que por isso a exibição do colectivo perca o seu valor (ou diminua a exibição de todos os jogadores, que estiveram muito bem), queria salientar, a nível individual, três exibições: João Júnior, Gonçalo Foro e Pedro Silva. Posto isto, despeço-me, deixando aqui um rescaldo positivo de um jogo muito exigente, mas que garantidamente é um bom prenúncio para a época 2008/2009 em termos de selecção nacional.