Rescaldo da Jornada Feminina (30 e 31 de Janeiro)

No passado fim-de-semana de 30 e 31 de Janeiro conhecemos o primeiro Campeão Nacional da época 2009/2010, a equipa feminina do Clube de Rugby do Técnico, e assistimos a mais uma jornada da 2a Divisão Feminina, a primeira para as equipas não-apuradas, a segunda (de três), para Loulé, Vitória de Setúbal e CRAV, os conjuntos que, na fase regional, ficaram nos primeiros lugares da classificação.
Este artigo visa abordar as principais incidências dos três eventos acima descritos (a 8ª jornada da 1ª Divisão; a 2ª jornada da fase final da 2ª Divisão para os apurados e a 1ª jornada da 2ª Divisão para os não apurados) e deixar aqui com os vídeos, fotos e links disponíveis, complementando uma semana em que tentamos dar maior destaque ao rugby feminino, com um artigo de entrevistas (o primeiro de 2010) publicado no fim-de-semana e acompanhando os jogos das Olaias e da Guia.


CAMPEONATO NACIONAL DA 1A DIVISÃO
No Sábado, fomos até ao Campo das Olaias, casa do Técnico, para ver se as jogadoras treinadas por Carlos Polainas faziam história ou se o Benfica, mais experiente nestas andanças, se punha de novo na rota do título. Tanto o piso do terreno como o tempo estavam agradáveis, dando o senhor árbitro João Erse inicio à uma partida de muito combate, em que Benfica e Técnico apresentaram os seguintes XIII iniciais:

Clube de Rugby do Técnico
01 - Tânia Semedo
02 - Raquel Sabino
03 - Virgínia Tavares
04 - Vera Cantante
05 - Mariana Magalhães
08 - Marta Ferreira (C)
09 - Catarina Esaguy
10 - Vera Nascimento
11 - Marta Pires
12 - Isabel Ozório
13 - Ilse Andersen
14 - Catarina Pires
15 - Joana Vieira [3+3]
16 - Margarida Cruz Morais (E.02)
17 - Solange Penas (E.13)
21 - Ana Frazão
22 - Leonor 'Piny' Amaral (E.17)
23 - Jessica Monteiro
24 - Rafaela Tavares
Treinador - Carlos Polainas
Treinador Adjunto - António Folgado
Fisioterapeuta - Rúben Miranda

Sport Lisboa e Benfica
01 - Arlete Gonçalves
02 - Vera Oliveira
03 - Andreia Ferreira
04 - Inês Margarido
05 - Sónia Borges
06 - Joana Pereira
09 - Sara Morais
10 - Cátia João
11 - Solange Varela [5]
12 - Catarina Antunes
13 - Ana Antunes
14 - Sofia Nobre (C)
15 - Maria Vasquez
16 - Maria Heitor (E.04)
17 - Kátia Delgado (E.09)
18 - Iris Silva (E.12)
19 - Margarida Simões (N.Ut)
20 - Micaela Benavente (N.Ut)
21 - Filipa Coutinho (N.Ut)
22 - Maria Martins (N.Ut)
Treinador - Paulo Silva
Treinador Adjunto - Francisco Goes
Delegados - Luís Antunes e Hélder Martins
Enfermeira - Isabel Antunes
Dirigente - Carlos Nobre

O jogo começou com o Técnico melhor, a aproveitar um erro das visitantes para abrir o marcador via uma penalidade convertida pela nº15, Joana Vieira (03-00). Perante duas equipas muito fortes como é o caso, a primeira parte foi marcada sobretudo pelo combate pela posse de bola, sem muitas jogadas a realçar, e com o Benfica a sair ao intervalo a perder um encontro vital, pese embora ter um pack avançado mais forte, um recurso que daria frutos caso a ligação com os três quartos fosse assegurada da melhor forma, algo que não aconteceu neste dia.
Na segunda parte a toada manteve-se, com o Benfica a assumir muitas das despesas em termos de ataque e as atletas do Técnico a contra-atacarem muito bem, posicionando-se para marcar o primeiro ensaio do jogo, um objectivo que não seria atingido. O jogo das 'Mabecas' é simples e eficaz. Reciclando bem a bola e com um bom trabalho de avançados (onde destacamos nesta partida o impacto de Tânia Semedo e a voz experiente de Marta Ferreira, a capitã), a equipa das Olaias consegue avançar no terreno e obter valiosos turnovers. É nos três-quartos, no entanto, que se encontram alguma das principais armas deste 'treze', a centro Isabel Ozório (que veio este ano do CDUP) e a defesa Joana Vieira, responsável pela conclusão de muitos ataques e provavelmente a melhor chutadora do rugby feminino nacional.
Estando o resultado em dúvida e numa altura de maior equilíbrio, foi o Benfica que, numa jogada em que abriu a bola rapidamente (uma das poucas vezes que o fez) conseguiu passar para a frente do marcador, num excelente ensaio de Solange Varela, o seu primeiro na edição 2009/2010 da 1ª Divisão, obtido depois de ultrapassar a defesa da casa e marcar à ponta (03-05). Recordamos que a chutadora (e habitual capitã) das 'encarnadas', Catarina Ferreira, não estava presente, sendo que a sua equipa não só se ressentiu da ausência desta líder e atleta como não teve alguém à altura para a substituir numa área tão sensível como é o jogo ao pé. O ensaio, escusado será dizer, não foi convertido.
Depois do ensaio do Benfica, marcado a meio da segunda parte, a equipa da casa concentrou-se no ataque e, menos de 10 minutos depois, voltou a passar para a frente do marcador, cortesia de uma penalidade frontal que Joana Vieira converteu (06-05). O 'treze' da Sobreda, mais forte nos alinhamentos e mais pesado nas formações ordenadas, cometeu demasiadas faltas no chão e perdeu bolas importantes nos rucks e mellées, uma das quais originou a penalidade acima descrita. Até ao fim do encontro Técnico e Benfica atacaram com coragem e determinação, sendo justo afirmar que a formação liderada por Marta Ferreira teve algum ascendente, permitindo a Joana Vieira tentar sem sucesso nova penalidade e um pontapé de ressalto.
Terminou assim uma partida dura, com muitas faltas e momentos de combate, que o Técnico venceu merecidamente, conquistando assim o seu primeiro campeonato nacional e quebrando um ciclo de dez anos de domínio de Benfica e Agrária. Ao campeão do ano passado faltou alguma organização, velocidade nas transições e ocasiões para amealhar pontos, tendo contudo feito uma boa exibição, sobretudo no plano defensivo, continuando a ser até aqui a única equipa que ainda não sofreu um ensaio na prova. Os muitos espectadores presentes saudaram as duas equipas e reconheceram o conjunto da casa como novo campeão nacional, numa festa que certamente se prolongou pela noite fora. Uma última palavra para saudar o trabalho seguro e positivo do experiente árbitro João Erse, uma escolha acertada para esta partida.


CAMPEONATO NACIONAL DA 2A DIVISÃO
No domingo, dia 31 de Janeiro, dirigi-me até ao Campo da Guia, casa do Grupo Sportivo de Cascais, para assistir à primeira ronda da fase final do Campeonato Nacional da 2ª Divisão Feminina, Grupo dos Não Apurados. Participam nesta competição os conjuntos do Cascais, da Lousã (por opção - qualificou-se para o grupo dos Apurados), da Bairrada, do Montemor e do Santarém. Entretanto, no dia anterior, tinham-se disputado, em Arcos de Valdevez, numa organização do clube local, o CRAV, os jogos da segunda ronda do Grupo dos Apurados, no qual participam também o Vitória de Setúbal e o Loulé. Arbitradas pelo senhor árbitro Adelino Coelho, os jogos em questão podiam ter dado ao Loulé o título mas, em vez disso, mostraram o enorme equilíbrio que existe entre estas equipas, com o Arcos a sair vencedor das suas partidas e a passar para a frente da classificação geral, em igualdade de pontos com a turma algarvia.

(05-00) CRAV v V.SETÚBAL
(26-10) LOULÉ v V.SETÚBAL
(17-07) CRAV v LOULÉ

Uma última nota no que diz respeito a esta jornada para destacar a presença de um bom público para apoiar os conjuntos presentes, facto que se repetiu em Cascais e prova de que o rugby feminino se está, mesmo que mais lentamente do que o dos rapazes, a desenvolver definitivamente em Portugal. No Campo da Guia assistimos a seis jogos entre equipas de nível diferente. A experiência e o número de atletas disponíveis, nesta divisão, mais do que nas restantes, são factores fundamentais para o sucesso e contribuem de forma decisiva para o resultado de muitos jogos.

(10-00) CASCAIS v SANTARÉM
(00-33) MONTEMOR v BAIRRADA
(00-27) MONTEMOR v SANTARÉM
(00-10) BAIRRADA v CASCAIS
(00-12) SANTARÉM v BAIRRADA
(00-36) MONTEMOR v CASCAIS

A presença do Montemor, a mais recente equipa feminina a estrear-se em competições da Federação Portuguesa de Rugby, significava que à partida teríamos três equipas mais fortes e experientes, o Cascais, a Bairrada e o Santarém, e que as jovens atletas alentejanas teriam mais dificuldades nos seus jogos, um facto que viemos a confirmar mais tarde mas que não impediu este conjunto de criar nas suas partidas muitas oportunidades para marcar um primeiro ensaio, um marco a atingir na próxima ronda.
De realçar a excelente capacidade de tanto Cascais como Bairrada, as duas equipas mais fortes naquele dia. De um lado encontramos um conjunto jovem, comandado por um experiente Tiago Ataíde (em substituição da treinadora Marta Ataíde, a quem num curto aparte enviamos as maiores felicidades e damos os parabéns pelo nascimento do seu segundo filho), que reciclava muito bem a bola, defendendo sempre com garra e empenho (não sofreu pontos durante a jornada) e empregando um estilo de ataque simples, manuseando a bola com qualidade e sem erros de maior, fazendo lembrar, em algumas jogadas dos três-quartos, outras equipas daquele clube que tantos títulos nacionais conquistaram.
Ao abordarmos esta equipa, o Cascais (a mais forte neste dia), salientamos os seus pontos fortes: o passe e a organização (tanto defensiva como ofensiva), a simplicidade do seu jogo ao largo e as boas exibições de jogadoras como Susana Anes e Filipa Gavinho, esta última o "motor" do conjunto e um elemento que já devia ter sido chamado para treinar num estágio da nossa selecção feminina, beneficiando assim do contacto com um rugby de nível mais elevado; e não esquecemos alguns pontos a rever, que regra geral são comuns a todos os conjuntos presentes: falamos do jogo ao pé, algo menosprezado por algumas equipas, usado com eficácia por outras como por exemplo a Bairrada, de muitas bolas perdidas aquando da placagem (avants) e da atenção a alguns detalhes como a manutenção e conquista da posse de bola nos rucks e o uso efectivo dos alinhamentos e dos mauls, importantes na melhoria do nível do rugby praticado se corrigidos ou melhorados.
Do outro lado estava uma equipa com muita história no rugby feminino, agora reactivada. A Bairrada misturou muito bem atletas 'veteranas' de outras andanças com novas jogadoras, num estilo muito próprio daquele clube, incisivo, usando muito bem os avançados, nunca temendo atacar de qualquer parte do campo e com uma médio de abertura que merece ser elogiada, pelo bom rugby mostrado em campo, traduzido em 15 pontos, três ensaios, Ema Santos. O Moita Rugby Clube da Bairrada proporcionou bons momentos de rugby a todos quanto assistiram aos jogos de Domingo, gerindo muito bem o rendimento do conjunto, pese embora a derrota contra o Cascais, conseguindo rodar a equipa toda contra o Montemor e defender-se de uma excelente segunda parte das escalabitanas no último encontro da equipa bairradina naquele dia.
Por fim, não esquecemos o Santarém, conjunto que (destes quatro) provavelmente mais desgaste sofreu, melhorando bastante da primeira para a terceira partida do dia, eliminando alguma desatenção e desorganização inicial que marcou parte da exibição com o Cascais e mostrando um rugby muito forte, tanto nos avançados como nos três-quartos, capaz de grandes esforços, como exemplificamos acima. Ao Santarém apenas faltou alguma capacidade no ataque para ultrapassar duas equipas muito agressivas e organizadas a defender (o Cascais e a Bairrada) que foram superiores nos detalhes e no aproveitar de erros, concretizando-os em ensaios fatais para as aspirações das comandadas de Manel Inez, esta jornada "substituído" pelo Sr. Carlos Branquinho e por João Tiago, responsável por muitas fotos tiradas aos jogos deste clube.
Em termos individuais não esquecemos as boas exibições da três-quartos ponta Maria Albuquerque e da primeira linha Vera Marques. Uma última menção para a presença muito activa de Luísa Leonor, uma combativa jogadora que mais uma vez nos mostrou que o rugby é praticado sobretudo com o coração e que o pulmão, com treino e muita vontade, ainda obedece à vontade do primeiro.
Abaixo encontram a lista das jogadoras presentes por clube (perdoem-nos se omitirmos, sem querer, alguém), links para as poucas fotografias tiradas (a luz não ajudou nada) e o vídeo da partida entre o Cascais e a Bairrada (ver acima), na nossa opinião e na opinião do Sr. Pedro Graça, da Sra. Maria Heitor e da Sra. Filipa Jales, os árbitros designados para esta ronda feminina, a melhor do dia. Desde já saudamos o bom trabalho destes três árbitros e desejamos-lhes as maiores felicidades para os seus próximos jogos.


Moita Rugby Clube da Bairrada
Jogadoras: Carla Martins, Lénia Carvalho, Margarida Martins, Andreia Santos Silva, Joana Reis, Rebecca Neves Bucher, Tânia Ferreira Martins, Filipa Mesquita, Inês Duarte, Ema Santos, Elizabete Rodrigues, Daniela Almeida, Ana Carina Martins e Jessica Dias Andrade
Equipa Técnica: Rui Rodrigues (Treinador)


Grupo Sportivo de Cascais
Jogadoras: Filipa Gavinho, Ana Cornélio, Andreia Veríssimo, Raquel Rodrigues, Sofia Couto, Susana Anes, Filipa Martins, Ruth Marques, Soraia Alves e Marta Carvalho
Equipa Técnica: Marta Ataíde, Tiago Ataíde e Francisco Amaral (Treinadores)


Rugby Clube de Montemor
Jogadoras: Ana Gião, Ana Filipa Leitão, Ana Pedra, Ana Silva, Catarina Oliveira, Cristiana Santos, Inês Carvalho, Maria Melgão, Maria Vacas, Matilde Coutinho, Patrícia Pinheiro e Rita Brejo
Equipa Técnica: Helena Torres (Treinadora)


Rugby Clube de Santarém
Jogadoras: Bruna Sofia Salazar, Madalena Mendes Esteves, Mafalda Monteiro, Maria Albuquerque Monteiro, Maria Carreira, Maria Luísa Leonor, Maria Teresa Azoia, Raquel Machado, Rita Cotrim Dias, Sandra Pinheiro, Sónia Carvalho, Telma Frois e Vera Marques
Equipa Técnica: Manel Inez e Carlos Branquinho (Treinadores) e João Tiago (Fotógrafo)


FOTOGRAFIAS

Fotos - Bernardo Rosmaninho (Rugby Portugal)

Fotos - Francisco Amaral (Cascais)

Fotos - João Tiago (Santarém)

Fotos - Moita Rugby Clube da Bairrada