Notícias (Março de 2009 - 1) + "Match Report" (S16: Direito v Cascais)

1.
Este artigo de notícias começa com o principal evento deste fim-de-semana, o Mundial de Sevens do Dubai. Portugal levou uma forte comitiva para esta competição e terminou no 12º lugar, uma posição bastante positiva num Mundial fantástico em que todas as previsões foram contrariadas e todas as surpresas aconteceram. Numa época em que a IRB apostou muito na promoção do Sevens como um desporto 'olímpico', o meio privilegiado para o regresso do rugby aos Jogos, este Campeonato do Mundo foi uma excelente montra, tanto na vertente masculina como na feminina.
Quanto à participação portuguesa, notou-se a garra e o empenho dos Lobos que tanto nos orgulha e os comandados de Tomaz Morais, longe de estarem em destaque durante o torneio, mostraram que, sendo o Sevens um jogo de momentos e de detalhes, foram poucos os que nos fizeram falta, e a maioria deles não é algo que seja culpa nossa. Faltou-nos mais algum tempo de preparação (o desgaste físico nos jogadores notou-se), faltaram-nos os nossos equipamentos, e talvez pudessemos ter tido um pouco mais de sorte num sorteio que, do primeiro jogo da fase de grupos até ao embate com a selecção 'revelação' da Escócia, nunca nos favoreceu.
Não queremos encontrar desculpas ou olhar para uma competição 'à posteriori' e passar um pano por cima de tudo. Bem pelo contrário. A equipa técnica nacional teve o mérito de pegar num conjunto de jogadores que fez três jogos duros (dois deles duríssimos) do Torneio Europeu das Nações e, em dez/quinze dias, coloca-los prontos para enfrentarem a Samoa, a Austrália e a Irlanda, três selecções que não tinham nada de fraco ou de permissivo na mais importante competição de sevens do mundo.
É verdade que não melhorámos o 10º lugar de Hong Kong 2005, mas fica o registo de uma boa participação, de uma participação digna na qual ficamos a uma partida do 9º lugar (a vitória na Taça Plate teria sido um excelente prémio para este conjunto que entre o XV e o VII tem tido imenso trabalho internacional nesta época). Perdemos para boas equipas, conjuntos que na ocasião, quando não nos foram superiores, aproveitaram melhor as oportunidades que tiveram para atacar. Ataquemos agora as provas do circuito IRB que restam (fomos convidados para ir à Austrália e vamos a Hong Kong, à Escócia e à Inglaterra) e os dois jogos do 6 Nações B. Daqui a 4 anos voltaremos a falar do RWC Sevens. Até lá, ficam aqui estas fotos do Miguel Rodrigues, autor do CDUL Rugby e de uma excelente foto-reportagem do evento, que podem consultar no blogue em questão.


NOTA (1): Numa nota relacionada com a competição feminina, foi notícia (e pelos melhores motivos) a participação inédita da equipa do Brasil no Dubai. As jogadoras brasileiras ficaram no 10º lugar e fizeram uma excelente prestação, surpreendendo muitas pessoas e obtendo muitos elogios. Não querendo comparar o rugby feminino português ao brasileiro, ou ao espanhol, por exemplo, que está num patamar superior ao nosso, é algo lamentável que, existindo vontade e jogadoras, vejamos selecções (no Campeonato do Mundo) como a Holanda, a Tailândia, ou o Uganda (para não mencionar a Itália e a Rússia) que apesar de terem todo o mérito e direito (algo inalienável e de louvar) a estarem presentes no RWC 7's, não podem estar assim tão longe das portuguesas em termos de qualidade e de capacidade (física e técnica).
É com alguma tristeza que recordamos várias pessoas dedicadas e de imenso talento que já estiveram à frente de selecções nacionais femininas ou ainda estão, de uma forma ou de outra, ligadas ao rugby feminino e vemos que, apesar de ter as suas principais competições consolidadas e a desenrolarem-se com normal periodicidade, o rugby feminino em termos de selecções nacionais (XV e VII) simplesmente não existe. Não se trata uma crítica infundada ou de um ataque sem sentido e necessidade, trata-se do urgente reconhecimento de uma realidade (o rugby, em Portugal, não é apenas jogado pelos homens) que importa reverter e analisar, a bem do desenvolvimento da modalidade, que também tem que ocorrer no sector das senhoras e que não pode concretizar-se apenas numa melhoria do nível de jogo e dos resultados das selecções nacionais (algo que é fantástico).


2.
Dos sevens passamos para o rugby de XV, nomeadamente para o rugby sénior nacional, para informar que os finalistas da edição 2008/2009 da Taça de Portugal já estão encontrados, depois de, nas 'meias', terem batido CRAV e CDUL, respectivamente, por 65-04 e 27-06. Falamos, obviamente, de Belenenses e Agronomia, clubes que, esta época iniciaram a sua participação na Taça nos oitavos de final e que se apuraram para os quartos de final vencendo sem dificuldades a Académica e o Cascais. Nos 'quartos' a tarefa destes clubes já não foi tão fácil, pelo menos para o Belenenses, que foi a Monsanto derrotar o candidato Direito por 23-19. A Agronomia, pelo seu lado, eliminava a única equipa da 2a Divisão ainda em prova, o Cascais Rugby Linha, graças a uma enorme vitória na Tapada.
Para os semi-finalistas derrotados, esta foi uma participação na Taça completamente diferente. O CDUL apenas competiu nos quartos de final da competição, derrotando um forte Técnico em casa por 24-10, enquanto o CRAV foi, sem dúvida a equipa-surpresa desta prova, realizando um total de quatro partidas antes de ser eliminado pela equipa treinada por Omar Turcuman. Os jogadores de Arcos de Valdevez defrontaram primeiro o Famalicão, um adversário de respeito que apenas foi derrotado no segundo tempo de uma boa partida de rugby. A este encontro seguiu-se uma vitória confortável contra a UTAD e uma deslocação difícil a Coimbra, ao campo da Agrária.
Apurados com estas vitórias para os 4os de final, os comandados de Nuno Vaz e Pedro Aguilar, iriam defrontar o Benfica, um jogo em que, à partida, os 'encarnados' seriam favoritos. Porém, num encontro em que Sr. Árbitro Jorge Mendes Silva dispôs, pela primeira vez em Portugal, de um intercomunicador ligado aos altifalantes do recinto, permitindo assim a todos aqueles presentes no Estádio Municipal de Arcos de Valdevez compreenderem as decisões do juiz da partida (uma prática habitual noutros países mas que nunca tinha ocorrido em solo lusitano), os avançados do clube da casa superiorizaram-se e embalaram o XV dos "Irredutíveis Minhotos" para uma histórica vitória (26-10), que permitiu ao clube do Norte receber este domingo o Belém.
Fica agora em perspectiva um grande encontro (a disputar no fim-de-semana 09/10 de Maio) entre duas das mais fortes (alguns adeptos dirão "as mais fortes") equipas de rugby de Portugal, finalistas do campeonato do ano passado e vencedores de 3 dos últimos 6 campeonatos. Encontram abaixo uma sugestão dos XV's ideais das duas equipas, que nos brindarão certamente com um grande encontro, se possível tão emocionante como aquele que, na final do campeonato do ano passado, deu a vitória aos jogadores do Restelo por apenas 1 ponto.
Belenenses
01. Facundo Borelli
02. William Hafu
03. Emanuel Chirino
04. Francisco Cabral
05. Valter Jorge
06. Salvador Cunha
07. Sebastião Cunha
08. João Uva (Capitão)
09. Bruno Nifo
10. Damien Steele
11. João Mirra
12. Diogo Mateus
13. David Mateus
14. Duarte Bravo
15. Pedro Silva

Agronomia
01. Gustavo Duarte
02. Bernardo Costa Duarte
03. Vincent Coelho
04. Juan Severino
05. Conrad Stickling
06. António Duarte
07. Gere David
08. Jacques Le Roux
09. Lourenço Kadosh
10. Duarte Cardoso Pinto (Capitão)
11. Rodrigo Sacadura
12. Sylvester Engelbrecht
13. Francisco Mira
14. Vasco Gaspar
15. Joe Gardener


3.
A última notícia desta semana provém do escalão Sub-16, e diz respeito ao encontro entre Direito e Cascais, que se realizou no passado Sábado em Monsanto. Este encontro podia ter atribuido o título de campeão (antecipado) à equipa de Cascais, o conjunto que tem dominado a competição (1a Divisão) durante quase todo o ano e que, com excepção da derrota sofrida às mãos do Belenenses venceu todos as partidas realizadas, conquistando sempre o ponto bónus.
O Cascais possui um conjunto muito forte fisicamente, que apesar de possuir avançados muito bons como o pilar Zé Conde, o talonador Tiago Santa Clara, o 2a linha João Andrade ou o asa (e Capitão) João Saraiva, aprecia e pratica um jogo de três quartos muito interessante, onde se destacam os jogadores Tomás Jonet (médio de abertura), João Bernardo Afonso (centro) e Pierre Simões (defesa). Esta equipa, que na primeira volta do campeonato (7a jornada) recebeu e venceu o Direito na Guia por 22-03, numa partida que prometia ser mais renhida mas na qual se notou demasiada diferença entre os dois XV's, deslocou-se (acompanhada de muitos adeptos) até ao campo do Grupo Desportivo de Direito consciente de que bastavam 4 pontos para poder celebrar a conquista de um título que há muito tempo o conjunto da linha não vence.
O Direito, por seu lado, foi durante todo o campeonato a equipa que mais se aproximou do líder, tendo concedido apenas duas derrotas (contra o Cascais na Guia e contra o Belenenses) e um empate (contra o 3º classificado CDUL) num percurso bastante positivo. Na equipa de Monsanto jogam dois centros muito bons, Pedro Crespo (o Capitão e chutador dos 'advogados') e Francisco Lobo, que juntamente com os avançados João Fernandes Thomaz, João Travassos, Vasco Fragoso Mendes, com o abertura Manuel Vilela e com o defesa João Ratão formam algumas das figuras em destaque no XV Lisboeta.
A partida deste sábado foi algo fechada no primeiro tempo, com os visitantes a entrarem algo nervosos perante a perspectiva de serem campeões, algo que é compreensível mas que apenas beneficiou o XV da casa, mais concentrado a defender mas incapaz de marcar ensaios perante a tenaz defesa dos jogadores do Cascais. Com as duas equipas sem ensaios, foi o pontapé de Pedro Crespo que abriu o marcador. Ao intervalo o Direito vencia por 03 a 00 o Cascais, graças a um bom desempenho dos visitantes. Os 15's iniciais das duas equipas foram:
Direito:
01 - João Tomás
02 - Eduardo
03 - Francisco
04 - André
05 - Afonso Dinis
06 - João Travassos
07 - Mauro Jesus
08 - Vasco Fragoso Mendes
09 - Salvador Tudela
10 - Manuel Vilela
11 - David Sousa
12 - Pedro Crespo (Capitão)
13 - Francisco Lobo
14 - Miguel Narciso
15 - João Ratão

Cascais:
01 - Zé Conde
02 - Tiago Santa Clara
03 - Jorge Bioca
04 - J.P. Cabaço
05 - João Andrade
06 - Tiago Marcelino
07 - João Saraiva (Capitão)
08 - Salvador Vassalo
09 - Nuno Bettencourt
10 - Tomás Jonet
11 - Henrique Câmara
12 - João Bernardo Afonso
13 - Miguel Lucas
14 - Francisco Afonso
15 - Pierre Simões

A segunda parte foi bem mais animada e aberta que a primeira, com o Cascais a tentar, desde o inicio, marcar os seus primeiros pontos, protagonizando algumas jogadas bem bonitas que o conjunto de Direito teve dificuldade em parar. Destaque aqui para a elevada qualidade de nível de jogo apresentado, um elogio que tem que ser feito a ambas as equipas, muito capazes e tecnicamente evoluídas. Aos ataques do Cascais, o Direito respondia com jogadas iniciadas pelos avançados, sobretudo a partir da formação ordenada, capitulo onde, na nossa opinião, a equipa de Monsanto esteve melhor.
Os jovens 'advogados' também tiveram muito sucesso em reter o ataque dos líderes com o uso criterioso do jogo ao pé, garantindo que as sucessivas jogadas que os três quartos do Cascais faziam (algumas muito bonitas e com grande apoio dos avançados) não chegavam à linha de ensaio. Com o aproximar do fim do tempo regulamentar os jogadores do XV visitante foram atacando de forma mais corajosa, com todos os elementos a protagonizarem grandes momentos de rugby, jogado muito à mão e testando (e de que maneira) a capacidade defensiva do XV liderado por Pedro Crespo. Teste esse que o conjunto de Monsanto passou, aumentando inclusive a vantagem com mais uma penalidade convertida pelo capitão (o Cascais dispôs de penalidades, mas não converteu nenhuma). Resultado final: Direito 6, Cascais 0.
Terminada a partida, ambos os treinadores (o Rugby Portugal falou com o treinador Martim Aguiar, do GDD, e com o treinador João Bettencourt, do GSC) concordaram que a vitória estava justamente entregue, salientando a evolução (do jogo da 7a jornada para este) da equipa vencedora. Quando tivemos a oportunidade de falar com o treinador Martim Aguiar, ele destacou o equilíbrio entre as duas equipas e o cariz mais táctico que este jogo teve, aprovando a correcção de alguns erros que tinham sido corrigidos (pela sua equipa) no encontro da primeira volta e reafirmando a intenção desta lutar pela vitória nos jogos que restam. Uma palavra de apreço deve ser dita pelo enorme espírito desportivo que este treinador demonstrou ao deixar bem claro que, caso o Cascais conseguisse conquistar o título nos 2 jogos que lhe restam, este estaria bem entregue e seria inteiramente merecido.
O treinador João Bettencourt, apesar da derrota, considerou este um bom jogo, lamentando a incapacidade dos seus jogadores para implementarem o modelo de jogo da equipa na primeira parte. Questionado sobre a importância e efeitos da pressão nos seus jogadores, o treinador disse que esta não só era positiva como importante, querendo que os membros da equipa estejam preparados para estas situações. Sobre o seu adversário, João Bettencourt reconheceu a superioridade do Direito nos 'rucks' e nos avançados, lamentando o facto do seu adversário se ter adaptado melhor às condições do campo e da partida. Também tivemos a oportunidade de falar com o médio de formação do Cascais, o Nuno Bettencourt, que fez uma boa partida e que, tal como a equipa, lamentou a entrada algo nervosa e as dificuldades que essa entrada causou, tendo garantido que a intenção do grupo (e dele) continuava a ser uma: vencer as duas restantes partidas contra o Técnico e ser campeão.


NOTA (2): Num jogo de rugby tão bem disputado como foi este, e perante duas equipas que se esforçaram tanto pelo mesmo objectivo: a vitória, não parece justo recompensar um trabalho individual. Porém, e depois de felicitar os dois clubes, o Rugby Portugal atribui o Prémio de Homem do Jogo ao Pedro Crespo, o capitão que simbolizou (por via dos seus 6 pontos e de uma boa exibição) o esforço de toda uma equipa: levar de vencida o Cascais, não largar naquele campo o sonho do título, um sonho que mesmo difícil (ou quase impossível) é algo pelo qual vale sempre a pena lutar.